Em homenagem a todos os artesãos tocantinenses e ao seu ofício, a Secretaria da Cultura destaca a vida e trajetória de Seu Zeca
Comemorado em 19 de março, o Dia do Artesão é também o Dia de São José, padroeiro da capital do Tocantins, Palmas, que tinha como ofício a carpintaria e o artesanato. Nesta data, o trabalho de artesão é relembrado por sua importância cultural e capacidade de transmitir saberes de geração em geração, com histórias de vida que se entrelaçam com a própria atividade, como é o caso da trajetória de José Fernandes Neves, um verdadeiro retrato do talento, criatividade e dedicação desses profissionais. Aos 99 anos de idade, Seu Zeca continua a inspirar e encantar com sua arte manual.
Nascido em 1924, no município de Pedro Afonso, José mudou-se para Porto Nacional no ano 1967, quando a cidade ainda era parte do Norte de Goiás. Sua jornada para se tornar um mestre artesão de sofás de buriti começou com a necessidade de aliviar uma dor na coluna e, orientado por sua filha, foi até um brejinho, onde os sofás eram confeccionados, e ganhou um serrote de um marceneiro local para reproduzir os móveis. Seu Zeca recorda que sua primeira experiência em ver uma peça do tipo se deu em uma casa de Palmas e, inspirado por aquele momento, decidiu reproduzir o sofá em sua própria residência, com algumas modificações para melhorar o acabamento. Foi então que a peça chamou a atenção de seu filho, que prontamente se ofereceu para comprá-la, iniciando o interesse em transformar sua habilidade em fonte de renda.
“Era um sofá de dois assentos, aí meu filho chegou e perguntou: pai, por quanto você vai vender este sofá? Eu disse a ele que era apenas para mostruário e ele disse que daria duzentos reais pela peça”, relembra.
Hoje, com quase 100 anos completos, Seu Zeca afirma que enquanto realiza o trabalho artesanal, suas dores na coluna desaparecem e, ao ser perguntado se é feliz com o seu trabalho, diz se sentir sadio, e que suas dores passam. O processo de confecção desses móveis parecem aliviar o desconforto físico que enfrenta, talvez por sua imersão em seu próprio processo criativo. Isso tudo também reforça o poder terapêutico que a expressão artística do fazer artesanal é capaz de possuir no bem-estar das pessoas.
Premiado, o artesão também recebeu reconhecimento pelo seu trabalho através de editais como o Prêmio Dona Miúda, em 2011, e o Prêmio Funcult Mestre Dió de apoio à Cultura Popular, Tradicional e ao Artesanato no Tocantins, em 2013.
A história do Seu Zeca com o artesanato, no entanto, vai além dos sofás de buriti, iniciada ainda na infância, na produção de uma variedade de itens que iam desde tamancos até jacás feitos de taboca, conhecimento herdado de seu tio e pai, que também eram artesãos. Atualmente, o filho Antônio Luiz Ribeiro da Neves, conhecido como Tauru, segue os mesmos passos do pai na profissão. Aos 58 anos também é artista plástico e considera que sua carreira no artesanato é familiar.
“Meu avô era artesão e meu pai até hoje continua ativo. Desde cedo eu observava meu pai trabalhar e com dez anos comecei a elaborar e dar formas as minhas peças”, conta. Antônio Luiz ainda diz que acompanha seu pai no processo de criação, indo desde a extração da matéria-prima até a própria confecção dos móveis. “Nós vamos até o brejo de maneira sustentável, que também foi algo ensinado pelo meu pai, e retiramos até três talas de buriti, preservando o restante da planta. Também optamos por fazer a extração de 15km a 20km da cidade”, explica.
Através do artesanato, a relação entre pai e filho transformou-se em mais do que simplesmente uma conexão familiar, mas uma parceria de aprendizado, uma transmissão de saberes passados de geração em geração, história que se repete na trajetória de muitos profissionais do setor. Juntos, eles compartilham técnicas, ideias e conhecimento, e enriquecem a tradição.
Em 18 de agosto de 2024, José Fernandes Neves completará um século de existência, seguindo firmemente na atividade que é sua fonte de renda há décadas. Sua história no artesanato tocantinense além de preservar a herança cultural da região, ajuda a espalhar as habilidades e os conhecimentos do ofício artesanal para que continuem a inspirar as futuras gerações.
Apoio ao artesanato tocantinense
O artesanato cumpre um papel fundamental no desenvolvimento da economia criativa regional e representa o sustento de famílias e a independência financeira de muitas mulheres tocantinenses, especialmente artesãs advindas dos povos originários e de comunidades quilombolas. Para promover e incentivar esta prática, o Governo do Tocantins, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), está com inscrições abertas no edital que seleciona artesãos e entidades representativas para participarem do 17º Salão do Artesanato Brasileiro – Raízes Brasileiras, que acontece entre os dias 8 e 12 de maio, na arena de eventos do Shopping Pátio Brasil, em Brasília (DF).
As inscrições podem ser feitas até 7 de abril, nos formatos presencial e on-line. Para ler o edital na íntegra, clique aqui. https://central.to.gov.br/download/368462
Por Ana Carolina Monteiro/Governo do Tocantins
Fotos: Kadu Souza